Cangaço como atrativo turístico
4 de dezembro de 2013O escritor Luiz Ruben é autor de 7 livros sobre o cangaço e está no processo de construção do oitavo. Interessou-se pelo assunto quando conheceu o pesquisador Antônio Amaury Corrêa de Araujo, o maior pesquisador desse tema. Nesse contato, Luiz Ruben só tinha lido 2 livros e, diante de tanta sabedoria por parte de Amaury, se sentiu desafiado a se aprofundar ainda mais. Em suas pesquisas, procurou os arquivos públicos, pesquisou notícias da época do cangaço e produziu seus livros baseado em fatos narrados pela imprensa baiana.
Além disso, conseguiu entrevistar alguns amigos ou parentes de cangaceiros que puderam confirmar o que a imprensa da época tinha publicado. Lamenta por não ter se interessado pelo tema anteriormente quando ainda poderia ter tido a oportunidade de ter contato direto com cangaceiros ainda vivos. Mas isso não foi empecilho para seguir adiante.
Um de seus livros (Lampião Conquista a Bahia) é um apanhado de matérias da época que relatam a entrada de Lampião na Bahia. Nessa época o bando estava escasso com apenas 5 cangaceiros mas, ao chegar aqui, encontrou um ambiente ideal tanto pela geografia da região quanto para recrutar pessoas que queriam ser cangaceiros, pessoas que tinham problemas com a polícia e que queriam aderir ao grupo. Enfim, o grupo cresceu tanto que tinha possibilidade de se dividir e confundir as volantes, exigindo ainda mais trabalho para a captura do bando.
Foto: internet
Sem contar na entrada da mulher no cangaço. Afinal, foi em Paulo Afonso que o rei dos sertões encontrou sua grande paixão: Maria Bonita. E não tem essa história de que a mulher fragilizou o grupo, pelo contrário. Dadá era uma cangaceira forte que até participava dos combates.
Foto: Richardison
Casa de D. Generosa
Boa parte do que aconteceu naquela época tem sua marca aqui na região. A casa onde Maria Bonita nasceu foi recuperada e hoje é explorada turisticamente. Sem contar com a casa de D Generosa, que é o local onde aconteciam os bailes (hoje a casa está abandonada e sem condições de exploração turística). Em cada povoado da região é possível encontrar algum fato ligado a Lampião:
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No povoado Lagoa do Rancho está enterrado o cangaceiro Sabiá (assassinado pelo próprio Lampião);
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no povoado Serrote onde José Clemente foi assassinado por causa de um cavalo;
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no povoado Salgadinho teve a cangaceira Lídia, a mais bonita do cangaço e está no filme Baile Perfumado onde relata todo o drama dela que foi assassinada por Zé Baiano por tê-lo traído;
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Cerca de 31 cangaceiros foram dessa região (de Santo Antônio da Glória, que hoje está debaixo d’água) entre outros.
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Na visão do pesquisador, o maior acontecimento nessa região foi o combate da lagoa do Mel (na fazenda Touro), pois morreram 17 volantes e apenas 1 cangaceiro (irmão de Lampião).
Acervo Luiz Ruben
Acervo Luiz Ruben
Todos esses acontecimentos têm um valor histórico, cultural e turístico enorme. Afinal, são mais de 700 livros falando a respeito do assunto. Transformar isso em turismo, sem dúvidas é apenas uma questão de vontade. Pois é possível desenvolver diversas coisas relacionadas ao tema como: artesanato, vestuário para a venda (belíssimos bornais que podem tranquilamente ser usado no dia a dia), peças teatrais encenando ataques, combates, bailes, gastronomia.
Foto: espetáculo APDT
O próprio Luíz Ruben produziu um material chamado “Roteiro do cangaço em Paulo Afonso/BA – Uma contribuição para o turismo rural”.
Material elaborado por Luiz Rubem - Proposta
Nesse material o idealizador, que também é pós graduado em turismo, apresenta um mapa do roteiro do cangaço onde necessita de poucas adaptações para deixar o ambiente propício a receber visitantes que possam apreciar a encenação do combate da Lagoa do Mel (em 24 de abril de 1931 , onde morre Ezequiel, vulgo Ponto Fino). Para fazer parte do cenário, a Serra do Umbuzeiro está localizada ao fundo. Sem contar com algumas placas com fotografias da época e uma ornamentação temática. Determinar um espaço para estacionamento de ônibus, carros de passeio.
Nesse espaço é possível fazer a simulação do combate e, por estar próximo a casa de Maria Bonita, já seria possível integrar 2 roteiros com o mesmo tema. Também pode ser explorado com a produção do artesanato, ornamentação com bonecos caracterizados, bem como adornos disponíveis para o turista se caracterizar;
É uma programação turística que já está pensada, porém faltando ser fomentada e desenvolvida. Essa é apenas uma das inúmeras possibilidades para a exploração do tema de maneira turística. Como o cangaço passou por diversos lugares também é possível pensar nos roteiros integrados, possibilitando envolver outros municípios e estados.
É certo que diante da riqueza que o tema proporciona e da infinidade de acontecimentos que existiram por aqui a exploração ainda é tímida. Mas temos o principal que é a história, a vivência.
Aos interessados em adquirir livros de Luiz Ruben, acesse o site: http://www.conversasdosertao.com/
Por Ana Paula Araujo