GILDO MADEIRA E O PERCUSSICLANDO
1 de novembro de 2013Diante da forte evidência que o grupo Percussiclando vem tomando na cidade de Paulo Afonso e região, nada mais justo do que saber um pouco sobre como tudo isso aconteceu. E um bate papo com o Percussionista Gildo Madeira descreveremos aqui todo o processo de construção do grupo e como ele se encontra hoje.
Nascido no meio de músicos, Gildo Mendes sempre admirou o irmão Bacurau, percussionista antigo de Paulo Afonso que deixou forte influência para o irmão e continua envolvido no meio da música até hoje, porém com uma freqüência menor.
GILDO PERCUSSIONISTA: Sempre via o irmão tocar e levar alguns instrumentos pra casa para construir outros, isso despertou a curiosidade e interesse pela música. Sem auxílio formal, foi desenvolvendo a habilidade a partir do pandeiro e do timbal, ouvia e tentava imitar o som, o que aguçou a sua audição. Sempre admirou a forma como o irmão tocava e como as pessoas o respeitavam, o carinho que tinham por ele. Isso aumentava ainda mais admiração pelo irmão. Convivendo nesse meio, começou a tocar em banda de pequeno porte, na época. Passou por algumas outras até chegar a Marreta You Planeta, quando, ao parar, partiu para São Paulo pra tentar adquirir mais experiências, depois passou uma boa temporada em Recife o que o fez voltar com bagagem suficiente para ser cobiçado pelas bandas pauloafonsinas. E novamente o músico se insere no pagode baiano. Mas, diante de tanta bagagem adquirida pelo tempo que passou fora, achou injusto consigo mesmo ter que se limitar a apenas um ritmo. E foi daí que veio a idéia do Percussiclando.
Foto: acervo pessoal
O PERCUSSICLANDO...: após uma baixa nos ritmos de shows com a banda que tocava, sobrou espaço para pensar em outras possibilidades. A princípio seria só algo no sentido de expor instrumentos criados por ele que depois evoluiu para convidar crianças de bairros menos favorecidos culturalmente para aprender a tocar. Em uma troca de idéias com Ercio (do colégio Monteiro Lobato), sentiu que valeria a pena investir na produção de instrumentos e desenvolveu um passo a passo da montagem.
Entre uma idéia e outra, convidou 4 meninos para fazer uma tentativa de montar um grupo usando o quintal de casa para ensaios. Muitas idéias na cabeça, porém nada de divulgações enquanto não estivesse com algo planejado, montado. Quando sentiu que o grupo estava um pouco alinhado, fez um teste no Parque Belvedere no dia das crianças de 2012 para sentir a resposta do público que foi excessivamente positiva, apesar de ter consciência que a apresentação não estava nem perto de ser a ideal. Mas percebeu que as pessoas aprovaram a idéia. Daí rendeu o Natal na Praça e, no 5ª na Praça foi o evento que deu mais visibilidade, rendendo até uma espécie de documentário produzido pela TV São Francisco (mostrando os ensaios, a transformação de lixo em instrumento, apresentação no quintal de casa). Essa foi a maior resposta de que estava realmente no caminho certo. Tudo isso sendo possível com o apoio de Sidney Componentes, doando material como baquetas e atalabaques; Multicor, doando tintas e sprays e Clébson Moreno, com a criação da arte que representa o grupo.
O grupo vem tomando uma proporção cada vez maior na cidade de Paulo Afonso, tanto que, em um seminário onde foi abordado o tema Economia Criativa, o Percussiclando foi um modelo de economia que dá certo pois, além do caráter econômico-criativo, abrange o aspecto social, ambiental.
Atualmente, de participante de um grupo, Gildo passa a ser líder de outro grupo, carregando assim a responsabilidade de se tornar exemplo para aqueles que o segue, oportunizar condições de construir uma profissão, seguir uma carreira. “ao entrar em contato com coisas boas, os meninos vão me ter como referência e, se eu tenho um nome, um instrumento, uma idéia, ao juntar uma turma, muitos vão absorver coisas boas de mim” afirma o músico.
Foto: Driele Mutti
A FEIRA DO EMPREENDEDOR: A carga de levar uma turma de músicos da cidade por causa do projeto Percussiclando fez com que sentisse o peso da responsabilidade que esse projeto tem. “estar de frente do conteúdo e no meio de pessoas importantes, dar entrevista para o SEBRAE, falar sobre o projeto, eu nunca pensei nisso não” afirma ainda espantado com tanta coisa nova acontecendo ao mesmo tempo. Ter que liderar um grupo e assumir a responsabilidade por eles, estar a frente dos acontecimentos faz com que o peso da responsabilidade seja sentido. O auge da feira foi a palestra com o ídolo Carlinhos Brown “Ele é um espelho pra mim, meu irmão se espelhava nele e eu nos 2. Admiro demais o trabalho do cara e o patamar onde ele colocou a percussão hoje que ninguém conseguiu, principalmente o timbau (instrumento baiano)”.
A Rodada de Música rendeu bons contatos e possibilidades de expandir ainda mais as idéias para aplicar no grupo.
Foto: Acerte Paulo Afonso
A EXPOMUSIC: a convite do guitarrista e parceiro Igor Gnomo, Gildo participou como expectador, mas acabou realizando alguns trabalhos com ele por lá e, claro, por se tratar de uma feira de música, levou o material do Percussiclando para distribuir o que rendeu bons contatos também. Recebendo respostas das pessoas que analisaram o material e gostaram.
Foto: acervo pessoal
PARCERIA COM GNOMO: por já terem tocado por diversas vezes juntos, os músicos têm afinidade suficiente para desenvolver um trabalho. No primeiro CD de Igor Gnomo, a música Baião ao Molho Madeira foi alimentada pela percussão de Gildo e, a partir daí, fazem um trabalho onde podem abusar da criatividade, dos ritmos, das experiências vividas, da diversidade musical e cultural que já vivenciaram. São livres para criar, para combinar instrumentos percussivos com instrumentos de corda. Não se limitar a um ritmo. Uma das apostas que deram certo foi na apresentação do Jazz na Rua da Frente onde o trio Igor Gnomo, Gildo Madeira e André Oliveira tocaram com o Percussiclando, levando os expectadores aos aplausos. “Eu vejo muita humildade nele, um cara humano, pensa muito no outro...”
Foto: Cal Roque
A FUNDAME: Marcelo e Morgana, do projeto Pensando em Música apresentaram Gildo à Irmã Paula, que tinha acabado de ser contemplada com um edital para aulas de percussão, fazendo com que, desde março desse ano, pudesse ensinar percussão aos adolescentes. Entrando sem experiência, sem método pré produzido. Tendo que criar métodos de ensino no período de prática.
Foto: acervo pessoal
O FUTURO: investir no Grupo Percussiclando, buscando novos métodos de crescimento, reforçar a parceria com Igor Gnomo.
Durante todo esse bate papo, Gildo deixa claro que seu desejo é poder crescer nesse projeto juntamente com o irmão Bacurau, pois ele sempre enxergou em Gildo a continuidade do seu trabalho e, quem sabe um dia, os dois não possam crescer juntos com esse projeto e realizar sonhos? O irmão, além de grande incentivador é um espelho para o músico.
COMPONENTES DO PERCUSSICLANDO
Tambor: Jadson, Marckson, Tiago, Lucas e Gabriel
Lata: Rafael, Danilo, Henrique, Pica Pau e Luquinhas
Arrajno (tonel+lata – intrumento inventado): Danilo e Cássio
Todos tem a Idade entre 11 e 29 anos e são apaixonados pelo que fazem, contam os segundos para os dias das aulas.
Por Ana Paula Araujo
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