MÚSICA PLANETÁRIA BRASILEIRA É UM SHOW DE REVOLUÇÃO E INOVAÇÃO
31 de julho de 2015Ontem, noite pauloafonsina, dia 30, uma quinta feira nublada, surge em uma cena de um dos novos espaços de divulgação de cultura da cidade, o Makinado Sushi Bar, em comemoração ao seu 1º mês de funcionamento em novo local, a percepção magistral que o estabelecimento teve quanto à ideia fantasticamente inquestionável de convidar o show do projeto Música Planetária Brasileira, idealizado e produzido por Igor Gnomo, guitarrista e criador do Centro de Educação Musical Igor Gnomo, cujo trabalho que está sendo desenvolvido no centro parece estar rendendo bons resultados.
O projeto Música Planetária Brasileira surge a partir da necessidade de valorizar e interpretar mais canções do cenário alternativo-popular brasileiro da música, porém sem deixar de lado as suas matrizes, tornando-se assim um show composto de ressignificações e reinterpretações para potencializar uma identidade brasileira única com artistas brasileiros e caracteristicamente pauloafonsinos de raiz.
Em sua mais atual e madura versão, levando em consideração que outras edições foram elaboradas com diversos artistas da cidade, a convite do próprio Igor, desde 2014, o Música Planetária Brasileira contou com a presença de músicos competentes e bastante caprichosos em suas desenvolturas no palco e na proposta daquela noite.
André “Jumper” Oliveira, baixista experiente e com absurda habilidade ao tocar o baixo com uma destreza incrível.
Igor Gnomo, que se apresenta nesse show do projeto como solista na guitarra além de ser o músico idealizador do show.
Larissa Hora, sua parceira que o acompanha realizando as bases em uma segunda guitarra, de forma ainda muito tímida, mas acostumada e bastante à vontade no desenrolar do show.
Eryan Monteiro, baterista inconfundível por sua levada na bateria de personalidade única e dotada de técnicas e habilidades em um jogo musical singular, que o destaca como baterista prodígio.
E por fim, Carolina Alexandra, cantora e vocalista da atual versão do Música Planetária Brasileira, atriz e dançarina da Companhia Roda da Baraúna, com uma carga e um peso cênico fora do comum trazendo ainda mais personalidade ao show com sua voz postada e forte, cheia de vida e interpretação.
Com um estilo que perpassa pelo tropicalismo e entre a subversão da musicalidade brasileira, abraçando também composições dos Novos Baianos e Lenine, o grupo conseguiu harmonizar todos os grandes talentos-potenciais presentes no palco na noite passada, que nos presentou com a apresentação impecável e calorosa do grupo, com ou sem chuva.
De forma equilibrada com a organização das canções do repertório, seguindo uma lógica cênica através dos estilos musicais interpretados, o próprio grupo viu-se assim: com equilíbrio e tamanha harmonia, conquistando a simpatia da plateia que vibrava e pedia mais e mais a cada interpretação de Carolina nas canções. Cada músico soube destacar-se em suas funções no seu devido momento e sem ofuscar o brilho dos parceiros de cena.
A idealização do cenário ficou por conta de Carolina Alexandra que pensou em todos os detalhes que nos remetia a um espaço cênico despojado e inovador, com recortes de bocas e olhos que beijam a música, que cantam, gritam e falam o que há para falar e olhos de diferentes formas e tamanhos observam, sendo o espelho de nós mesmos (ou não). Além de flores de diferentes cores e texturas que espalharam pelo espaço.
A produção executiva do cenário coube também às mãos habilidosas e a ajuda prestativa e generosa do também ator e dançarino da Companhia Roda da Baraúna, Leandro Medeiros. Apesar das novas versões jazzistas e com influências nítidas de rock e estilos regionais, características presentes nas últimas obras de Igor Gnomo, essa mescla foi o que mais impressionou o público que aplaudia atenciosamente a cada canção interpretada e que pela mistura de personalidades (de cada integrante da banda) trouxe uma sonoridade diversa e singular à tona.
Os músicos mostravam-se todos tranquilos e entrando na proposta de interpretação das músicas que ganhavam outras variadas vidas na voz poderosa de Carolina Alexandra, que gigante estava no palco, além de bem humorada e caprichosa em suas nuances durante os toques de cada instrumento no palco.
A noite contou ainda com a presença de convidados inesperados que prestigiavam a noite sem saber que seriam chamados ao palco para interpretar canções que já haviam cantado (ou tocado) juntamente com o guitarrista experiente e sagaz, Igor Gnomo, improvisando e combinando os detalhes naquele mesmo instante.
Subiram ao palco Luan Almeida, ator e cantor da Companhia Roda da Baraúna, que interpretou 3 canções e deu um ar diferente a sintonia que estava estabelecida, a cantora Damilly Freires, que chegou a fazer um dueto com Carolina, deixando claro o contraste entre as vozes sutil e grave, o percussionista Buiú, que trouxe energia vital e a força dos tambores contagiando o público.
Os ritmos eram descontraídos, ora leves, ora acelerados e com muita energia. Carolina tocava instrumentos acompanhando os outros, seja com alfaia, com triângulo, com cocos, ou pandeiro. Ela tinha domínio do que fazia, estava presente, estava viva e trouxe roupagens novas para várias canções que interpretou, algumas em inglês, a exemplo de Nine Out Of Ten e You Don’t Know Me, as quais deu um tom de malemolência nas composições de Caetano Veloso. A interpretação de Carcará (João do Vale/José Cândido) foi também emocionante, agressiva e poética, trazendo o sertão no olhar e na voz de Carolina.
Outro grande destaque, sem sombra de dúvidas, cai sobre os solos do guitarrista Gnomo, que entre os intervalos das canções esbanjava de forma impressionante e magistral, mostrando que a guitarra era apenas mais uma extensão de seu corpo, ou que os dois estavam unidos como um só ser, os sons de sua guitarra se faziam marcantes.
O figurino de alguns remetia ao tropical, ao tropicalismo de Gil, Caetano, Gal e Tom Zé, a ideia de Brasil das florestas e das riquezas de todos os cantos e direções. Mesmo com o pouco espaço disponível para a movimentação dos músicos, isso não os impediu e os deixou em um clima bastante aconchegante e íntimo.
A afinidade entre ambos era pulsante. O show ainda contou com textos da dramaturga e diretora teatral Dolores Moreira, que com suas palavras, emocionou através de Carolina, e trouxe o sertão vivo e latente em seus textos.
Através do projeto de Igor Gnomo com o apoio do Makinado Sushi Bar e do CEMIG, o projeto Música Planetária Brasileira mostra-se cada vez mais incrível, com mais cores, sempre reafirmando uma sonoridade que pertence aos músicos ou que faz os músicos pertencerem a ela.
A cidade precisa desse som, desse batuque, dessa afirmação e da sonoridade que eles criaram. A cada novo episódio do projeto há surpresas, inovação, renovação e revolução que são palavras que traduzem a transparência vista no palco no show de ontem. O show nos reportou a uma viagem onde o prazer e a poesia da sonoridade se mostrou definitivamente.
O que resta dizer é que será melhor atentar-se as novas datas e locais da agenda de shows dos músicos para enfim prestigiar e apenas confirmar o que aqui trouxe em minhas impressões.
Luan Almeida é ator, cantor e compositor.
Por Luan Almeida
Fotos por Lorena Garcia